sábado, 7 de fevereiro de 2009

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver.Mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo,como tomar banho, colocar uma roupa, ir a padaria – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não é um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha lerdeza,que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como? Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo até eu desconhecendo a razão da minha tristeza).Vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui. Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal.Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão.Estar triste não é estar deprimido. Estar triste é estar atento a si própria, é estar desapontado com alguém, com váriosou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente. “Eu não sei o que meu corpo abriga nestas noites quentes de verão e não me importa que mil raios partam qualquer sentido vago da razão eu ando tão down [...]”Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, nem pra bossa usada.